Grêmio 1 x 0 São Paulo
Campeonato Brasileiro 1981 (Copa de Ouro) - Estádio do Morumbi - São Paulo
Acho que, apesar de ir ao Olímpico desde os 4 anos, foi mesmo em 1981 que eu comecei a entender melhor as fórmulas do campeonato. Antes eu só acompanhava o Gauchão, ouvia ou via o Grêmio jogar e chegar à final.
Já o Brasileirão era diferente. Eu ouvia alguma coisa no rádio, o Grêmio até ganhava mas, de repente, perdíamos uma partida e não tinha mais jogo. Uma bosta. Em 1980, se não me engano, isso aconteceu depois da gente levar 5 do timão, com o Remy (ou Remi, sei lá) no gol. Mas pode ser só impressão minha...
Bom, voltemos a 1981.
A fórmula do campeonato era muito louca. Começava com os times divididos em grupões. Os classificados dos grupões (vários) eram amontoados em grupos com 4 times (o nosso tinha São Paulo, Internacional de Limeira e Fortaleza).
Desse grupo saiam dois e começavam os mata-matas: jogamos contra Vitória, Operário MS (encardidíssimo), Ponte Preta (recorde de público no Olímpico - mais de 85 mil pagantes e mais de 98 mil de público total) e, na final, o São Paulo de novo.
Pela melhor campanha, o São Paulo decidia em casa. O que era assustador quando voltávamos no tempo, não muito, e lembrávamos do que tinha nos acontecido antes.
Na segunda fase, o bambi nos deu uma surra no Morumbi: 3 x 0, com direito a expulsões e olé. Esse jogo, aliás, marcou o começo de várias mudanças na escalação do Grêmio. Entraram garotos da base e o time se recuperou bem. Eu mesmo, ainda pouco afeito à imortalidade tricolor, não acreditava que a gente fosse superar o todo-poderoso São Paulo, um dos times que mais cedia jogadores para a Seleção Brasileira do Telê Santana (aquela que deslumbraria o mundo no ano seguinte).
Mesmo assim, lá fui eu para o Olímpico. E o primeiro jogo da decisão foi um jogo do Grêmio como a gente bem conhece. Não lembro exatamente a ordem dos fatos, fazem 26 anos e eu usei muitas drogas na vida, mas levamos um gol, perdemos um pênalti e tudo parecia perdido no intervalo.
Aliás, foi ao final do primeiro tempo que Baltazar Maria de Moraes Júnior, o artilheiro de Deus, primeiro atleta de Cristo brasileiro (ou, pelo menos, o primeiro a passar o tempo todo falando no Cara), proferiu a célebre frase sobre o pênalti desperdiçado logo por ele, nosso goleador, "Deus deve estar reservando alguma coisa melhor pra mim". Guardem essa frase.
No segundo tempo, numa noite inspiradíssima de Paulo Izidoro, o Tiziu, viramos o jogo e passamos a ter a vantagem de jogar a decisão pelo empate.
Ah, para que eu, na melhor fase da minha infância, entedesse perfeitamente como é ser gremista, no final do jogo o Leão e o Serginho Chulapa se chocaram na área e o nosso goleiro machucou o supercílio. Virou dúvida para a decisão.E o reserva era o Remi (ou Remy, já disse que não sei, porra!), aquele mesmo que tinha encerrado a nossa participação no campeonato anterior levando 5 côcos do Timão. Era de se temer pelo pior.
Então chegou o domingo, 3 de maio, e íamos decidir o campeonato. TV na Globo e vamos para o jogo.
Foi um domingo engraçado, porque o pai trabalhou, meu vizinho da frente e camarada, o Paulinho, ficou na casa dele e eu assisti ao jogo com a mãe e uma tia, que na minha fantasia é a Ruth, minha saudosa e amada madrinha. Mas não tenho certeza se era ela mesmo. Estranho porque eu não tinha visto nenhum jogo do tricolor assim, sem ninguém, até aquele dia. Justo o dia da final.
O Grêmio era Leão, Paulo Roberto, Newmar, De León e Casemiro; China, Paulo Izidoro e Wilson Tadei; Tarciso, Baltazar e Odair.
O São Paulo começou o jogo em cima da gente. E nós na defesa, porque se tinha uma coisa que os times do seu Ênio Andrade faziam bem era jogar na defesa. OS primeiros 45 minutos foram assim.
O segundo tempo não foi diferente. O Jurandir, um quase anão que não deixava o Falcão jogar em Gre-Nais, entrou no lugar do Wilson Tadei (afinal o espírito da coisa era segurar o empate). E o Renato Sá, que era o que poderíamos chamar de ponta-esquerda recuado, entrou no lugar do Odair. Na verdade, o Renato Sá era um meia que cumpria a função de ponteiro, voltando mais para ajudar o meio-campo a marcar.
Mas esse Renato Sá era pé-quente. Ajudou o Grêmio em várias partidas desse campeonato, e na final não foi diferente.
Na metade do segundo tempo, o Paulo Roberto tava com a bola na intermediária do bambi. Dali ele lançou na área. O Renato Sá vôou e escorou a bola de cabeça para o peito do Baltazar, na risca da área.
"Deus deve estar reservando alguma coisa melhor pra mim". Lembra disso?
Pois é. Estava mesmo.
Baltazar matou a bola no peito e bateu de sem-pulo. Bola no ângulo do Valdir Perez, que só fez um jeito. Baltazar comemorou com os dois braços erguidos. Deve ter essa foto no Memorial do Grêmio.
Depois o tempo passou. Numa dividida na nossa área, o Leão se atirou pra fazer um tempo. Serginho Chulapa chegou perto dele e... Pimba! Deu com o bico da chuteira na testa do nosso artista. Acabou expulso, suspenso por alguns meses e cortado de Seleção.
Aí foi só esperar pelo final.
O Tricolor foi campeão brasileiro pela primeira vez. Eu também.
No fim do jogo atravessei a rua correndo para a casa do Paulinho. A festa tava pegando lá também. Fomos para a esquina da Juca Batista, sacudir as camisetas e receber buzinadas de volta.
Uma experiência incomparavável. Uma das minhas últimas alegrias antes de mudar de Ipanema para a Tristeza e entender o porquê do nome. Mas isso é história para outro blog. Aqui o papo é Grêmio.
São coisas como essas, que eu vi e vivi várias vezes desde que sou gremista (conseqüentemente, desde que nasci), que me fazem ter fé em bons resultados contra o São Paulo a partir de quarta-feira, pela Libertadores.
Todos os resultados da campanha do Imortal Tricolor no Brasileirão de 1981 estão no site do Grêmio. Vale conferir. Lá a informação é careta, porém precisa.
Dá um bico:
http://www.gremio.net/page/view.aspx?i=camp_bra81cam&language=0
domingo, 29 de abril de 2007
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