terça-feira, 29 de maio de 2007

Como se ganha um mata-mata com a primeira partida em casa



Grêmio 3 x 1 El Nacional

Copa Libertadores da América - 1995 - Final - Estádio Olímpico Monumental

Oh, meu Deus, vamos decidir com o Santos na Vila Belmiro!

Quer saber? Grande coisa!

O Grêmio ganhou um Brasileirão jogando a primeira partida em casa e a segunda no território do inimigo. E duas Copas do Brasil. E uma Libertadores. E se classificou assim em diversos campeonatos também.

Ou seja, devemos respeitar o Santos como grande adversário que é, mas não devemos temê-los mais por decidirmos fora.

Em 1995, a torcida teve medo de jogar a primeira em casa. Três a zero era a conta de todo mundo pra ir à Colômbia sem medo.

E o timaço do Grêmio, com todo mundo jogando bem (vale a pena ver o vídeo), foi pra cima e, no começo do segundo tempo, já tinha 3 x 0. O último gol, por sinal, foi bem no lado onde estàvamos, Beto, Rafa e eu, nas cadeiras laterais.

O Nacional não era bobo, ao contrário do que podem dizer alguns detratores. O Higuita segurou muito e os colombianos sempre levam perigo. Lá pelas tantas, um maluco sai a drible e eles fazem 1. 3 x 1. O jogo termina assim.

A torcida aplaudiu, mas não ficou feliz de verdade.

Na descida da rampa, a gente só ouvia torcedor reclamando que agora tinha complicado, filhos da puta que levaram o gol, aquele comportamento típico do gremista corneteiro.

Acho que fui eu que comecei, mas estávamos os três muito bêbados pra eu dizer com certeza quem foi. No meu delirium tremens, fui eu, vá lá:

"Vão se foder, seus filhos da puta... É bi-campeão!".

Começamos a gritar só nós três. E o grito foi engrossando.

Bi-Campeão! Bi-Campeão!

De repente, parecia que toda a rampa tava gritando com a gente. Alucinante.

Saímos caindo de bêbados. Na época, eu era muito mal-casado e morava num lugar muito mal-localizado, ali na frente do Chiquei-Rio. Como os guris moravam em Ipanema, fomos a pé até a minha casa. Eles pegariam o ônibus na frente da casa do co-irmão, que andava como hoje em dia: muito mal.

Foi quando resolvemos delimitar o território e mijamos no muro deles! E mijamos muito, paras as próximas gerações não-evoluídas também lembrarem quem manda aqui!

Ainda na parada do ônibus, um funcionário do Once Caldas chegou à parada. O tiozinho nem olhava pra nós. Quando ele subiu no busão e olhou pra trás, antes do ônibus arrancar, gritamos:

Aí, Tio! Achou que a gente não ia dizer nada? Bi-Campeão! Bi-Campeão!

O motorista devia ser gremista, porque deixou tudo isso acontecer com a porta aberta (o embarque ainda era na porta traseira), sem arrancar.

Foi um dia do caralho. E ainda tínhamos mais um jogo pela frente.

Eu temia levar um abafa, mas sabia que ganharíamos o título.

Uma semana depois, o tricolor empatou na Colômbia e foi Bi-Campeão da Libertadores. Mas esse jogo é outra história.

O que vale hoje é que somos acostumados a nos classificar em mata-matas fora de casa também.

E que o Rafa, o Bato eu saímos do Olímpico gritando Bi-Campeão em 1995, numa hora em que muita gente tinha dúvida.

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