quinta-feira, 21 de junho de 2007

O jogaço

Porto Alegre estava nervosa ontem. Muito nervosa.

O caminho engarrafado fez a Claudia e o Theo demorarem a passar pra me buscar. Mas como eles vinham ouvindo rádio no caminho, descobriram que a única rota razoável era pela Érico Veríssimo.

A Claudia fez algumas manobras ninja e a gente conseguiu escapar aqui e ali dos congestionamentos. Na verdade, quando a gente chegou perto do Monumental, mais de duas horas antes do jogo, o trânsito não estava tão ruim porque já estava quase todo mundo dentro ou na fila para entrar.

Do caminho falamos com o Rafão. Nos encontramos na fila do Portão 5, milagrosamente bem organizada, apesar de uma certa falta de educação dos controladores de jogo/seguranças. Mas entramos sem problemas, sem neguinho furando a fila, como costuma acontecer.

Entramos pelo 5 e arranjamos um lugar atrás da goleira oposta. Uma coisa que eu detesto sinceramente e sempre esqueço de falar são aquelas placas atrás do gol. Para os desgraçados que estão ali, não dá pra ver a bola entrar se o chute for rasteiro (no lance da cabeçada do Schiavi na trave - não é que rima? - eu não vi o final da jogada direito por causa das malditas placas).

Acomodados, esperamos mais de duas horas pelo começo do jogo (sem beber nada pra não sentir vontade de ir ao banheiro). Os poucos lugares vagos logo foram ocupados. Como sempre, do nosso lado pintou o corneteiro (ver adiante). Enquanto isso, nos divertimos com os bonecos enforcados, os caixões do boca e a mega-ultra-hiperfunda da Toyota. O bagulho é tão grande que eu achei que fosse um pedaço do palco. O Theo, que já tinha visto aquilo, me explicou o que era.

Invejei muito.

Se tivesse uma daquelas lá em casa, ia passar o dia jogando meias sujas do quarto para a cozinha.

Depois de muita espera e muito calor, o Grêmio entrou em campo e a Monumental veio abaixo. Chacoalhamos o Olímpico. Depois vaiamos o Boca, mas os caras são muito frios. Se o Patrício parecia nervoso na semana passada, eles pereciam bem à vontade no Olímpíco.

Os primeiros 45 minutos passaram rápido, porque os gringos davam chutão na defesa, prendiam a bola no ataque e faziam muita cera. Cera que o seu juiz não fez a menor questão de punir e/ou proibir.

O problema é que o time foi pra cima do Boca basicamente na vontade, mas sem muita inspiração. Era tanta vontade que, em muitas vezes, atrapalhava. Erramos passes por precipitação, por não pensar bem na jogada.

Agravante: nossa jogada pela esquerda estava burocrática. Pela direita quase não teve jogo no primeiro tempo, com excessões honrosas para as tentativas do Diego Souza por ali. Patrício estava preso demais no primeiro tempo e, em geral, não ia ao fundo para cruzar.

Nosso meio-campo e a defesa vinham controlando razoavelmente bem os boludos. Gavilán jogou muita bola de novo, marcou como um gremista e deu pau quando necessário. Poderia bater um pouco mais para o meu gosto. O poder de marcação do Sandro Goiano fez falta e o Riquelme ficou meio solto. Por sorte, eles só queriam fazer o primeiro tempo passar.

Do nosso jeito meio atrapalhado, criamos umas cinco oportunidades na etapa inicial. A melhor de todas, na minha humilde opinião, foi o chute do Diego Souza que pegou no travessão. Um gol naquela hora faria toda a diferença.

O corneteiro do meu lado só gritava, "joga no fedor!", "chuveirinho, filho da puta!". Cada um com a sua opinião, respeitei o cara. Eu mesmo acho que cruzar bola na área só é garantia de gol no Fifa Soccer 96 e no Virtua Striker. Funcionava também quando a gente tinha o Jardel, mas isso faz tempo... O cara gritava tanto a mesma coisa que dois moleques na minha frente saíram de onde estavam. E eu ouvia muitos comentários sobre o cara. Nenhum deles favorável. Ah, e quando a bola ia pra área ele reclamava.

Definitivamente, não se pode agradar a todos.

Enquanto a gente esperava pelo gol que abriria a porteira, o Boca também ameaçava nos contra-ataques, e o Saja nos salvou numa jogada do Palerma pela direita.

A sorte, porém, não estava do nosso lado. Tuta foi o primeiro a se machucar: nariz quebrado num choque com o Teco. Certa feita, o meu amigo e professor Aimoré Goulart literalmente rachou o meu nariz (a chamada fissura). Dói, mas não se se justifica a atuação apagada.

Depois do Tuta quebrar o nariz, Teco caiu num lance com o Palerma (ou o Palacio, sei lá) e sentiu. Nosso zagueiro rápido tentou voltar na garra, mas não deu. Quando o Schiavi entrou em campo, deu um certo medo. Mas era o que tínhamos. Dá-lhe, Schiavi.

Quando o juiz apitou, apesar de tudo que escrevi até aqui, parecia que só tinham passado uns 20 minutos. Talvez, com a bola rolando, tenha sido ainda menos.

Senti o drama: o tempo estava passando rápido demais.

Voltamos para o segundo tempo com Amoroso no lugar do nosso capitão Tcheco. E o tricolor veio melhor, tentando mais o gol.

E logo no comecinho o Schiavi acertou uma bela cabeçada que, por nosso azar, acabou na trave. Um gol aos Lúcio em belo chute de fora da área nos deu esperança.

Tentamos, tentamos, tentamos até que caiu a ficha: além de melhor no todo, o Boca tem um craque que faz toda a diferença.

E lá pelas tantas a bola caiu no pé dele, e sobrou um espaço e ele guardou: 0 x 1. Um chute lindo e indefensável, muito parecido com o do Diego no primeiro tempo, prova de que não era nosso dia de ganhar.

O time sentiu. A torcida também. Mas fora do campo a gente se recuperou mais rápido. E tentamos até levar o segundo gol.

Tirar o Tuta e colocar o Everton era a última alternativa, e não adiantou. O Gavilán distribui alguns coices pra mostrar que no Olímpico a gente manda e o jogo acabou.

Daí a torcida deu um show e mostrou porque é a melhor do Brasil: aplaudiu, cantou o hino e homenageou os caras que nos transformaram de azarão em segundo melhor time da Libertadores. Não é pouco o que eles fizeram.

Grêêêêêêêmiooooo, Grêêêêêêêmiooooo.

Vaias para Tuta, Amoroso e Lucas na hora das medalhas. Sei lá, mesmo que os caras não tenham correspondido às expectativas, não acho que sejam uns mal-intencionados como os jogadores que nos levaram para a Série B em 2004. Aqueles é que merecem ser vaiados pela eternidade.

Saímos do estádio tristes, mas ainda assim orgulhosos.

Nosso time chegou à final eliminando grandes times, como o São Paulo e o Santos, enquanto outros tantos ficaram pelo caminho. Times melhores, mais ricos.

Enfrentamos um adversário poderoso, jogamos bem na casa dele e levamos azar em casa. Mas nosso time não se conformou nunca com a derrota e lutou o tempo todo. É assim que tem que ser. É assim que o Grêmio faz há quase 104 anos, ganhando ou perdendo.

Esse é o time que a gente ama.

Imortal.

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