quinta-feira, 6 de setembro de 2007

12 anos sem um dos meus maiores ídolos

Hoje fazem exatos 12 anos que meu pai morreu.

O velho Tito era um sujeito nascido na primeira metade do século passado, no interior do Rio Grande. Ele perdeu a mãe quando tinha 8 anos, criou-se com os irmãos, sofreu na mão de uma madrasta cruel e de um pai que ele adorava, mas que era bem violento.

Meu pai teve aquela educação bacana, anterior à reforma do ensino – tempo em que se aprendia francês em vez de inglês e a disciplina era rígida.

Lá em Santa Maria o seu Tito era Riograndense. E Grêmio. Por isso, sempre odiou os Cocolorados, de lá e daqui. Ele era um fundamentalista: não usava vermelho em hipótese alguma. Nunca.

Quando guri, o velho matou muita aula em Santa Maria pra jogar bola. Meses seguidos num mesmo ano, inclusive, o que lhe rendeu uma surra um pouco maior do que as habituais quando a casa dele caiu. E um ano perdido.

Ele nem acabou o colégio. Foi pro quartel e, findo o serviço militar, vazou pra capital pra jogar bola.

Ele dizia que veio a Porto Alegre pra ser jogador do Grêmio, mas o irmão mais velho dele, o Tabajara, só conhecia gente no Cocolorado. Era onde ele podia tentar alguma coisa, mas isso ele não aceitou.

Acabou descolando um free numa cobertura de um grande incêndio. A editoria de polícia, naquele tempo, era o começo da carreira de jornalista e ele acabou contratado no Diário de Notícias.

Depois que empastelaram o jornal, quando o Getúlio se matou, ele foi pra Caldas Júnior, conheceu a minha mãe por intermédio do meu tio, foi para a Faixa de Gaza com uma fotinho dela na certeira e, na volta, namorou, noivou, casou, teve filhos e aqui estamos nós.

Entre o dia 24 de abril de 1971 e o dia 6 de setembro de 1995, ele me contou milhões de histórias sobre o Grêmio, me deu a primeira camisa tricolor, me levou ao meu primeiro jogo no estádio.

Tenho uma ponta de orgulho de ter ido com ele ao estádio pela última vez. E nem foi em jogo do tricolor: estivemos naquela semifinal do Brasileirão de 1985, entre Brasil de Pelotas e Bangu, no Olímpico.

Depois a saúde foi ficando complicada e ele parou de ir. Mas nunca deixou de acompanhar o tricolor, pelo jornal, pelo rádio e pela TV.

No dia 6 de setembro, há 12 anos, mal tinha completado uma semana que o Grêmio ganhara o bi da Libertadores. Ele tinha sonhado com o empate e o título.

Poucas vezes na minha vida eu vi meu pai tão feliz como depois desse jogo. Combinamos de ir ao Japão ver o jogo contra o Ajax, mas não rolou.

Toda a vez que eu vou ao Olímpico, dou uma olhadinha pra ele e pra minha mãe, que estão ali no João XXIII, com visão privilegiada do Monumental.

Tenho certeza de que ontem eles devem ter ficado muito felizes com o nosso time.

Esses 12 anos passaram voando. E é por isso que eu ainda sinto saudade do meu primeiro grande ídolo gremista, o seu Tito Ubiratan Tajes.

Fica aqui o meu beijo para ele e também pra dona Miroca.

Vai demorar um pouco, mas um dia ainda vamos voltar a tomar uma cervejinha (pode até ser Kaiser, já que vou ser o último a chegar) e assistir aos jogos do tricolor em alguma garagem que foi transformada numa peça ampla pra reunir a moçada.

E meu muito obrigado por ele ter me transformado em tricolor desde antes de nascer.

Um comentário:

Claudia Tajes disse...

Aquele jogão foi um presente para o senhor Tito. Que ele continue aproveitando a vista para muitos e muitos gols e vitórias, de lá onde hoje mora com a dona Mirian.