
O Grêmio foi Campeão Mundial de Clubes no dia 11 de dezembro de 1983. Mas, pra gente, a aventura começou no dia 10. Aliás, muito cedo no dia 10.
Depois da vitória contra o Penharol, na final da Libertadores, o Grêmio perdeu Tita, o legítimo sucessor do Zico no Flamengo, e trouxe Mário Sérgio e Paulo César Caju. O time titular, que tinha o Vesgo e o Caju, jogava só em Porto Alegre - naquele ano o segundo semestre teve Gauchão.
Então, como o time titular não jogava muitas vezes, parecia que o tempo passava muito devagar.
Pra aumentar a espera, a viagem foi antes do jogo, para os boleiros se adaptarem bem ao fuso-horário. E a gente aqui, ansioso.
De sexta (9 de dezembro) pra sábado (10), meu grande amigo Fábio Leandro Garcia dormiu lá em casa. O cara era um baita gremista (ainda é) e morava em Guaíba. Então, como já era época de férias, ele passava uns dias lá com a gente. E não tinha como a gente não ver esse o jogo juntos.
No sábado a gente acordou cedo. Antes das 7 da manhã, talvez.
O jeito era ocupar o tempo.
A gente jogou umas 300 partidas de futebol de botão, jogou basquete, jogou futebol, viu TV e ainda faltava muito tempo para o jogo. E a gente nervoso. E meu pai, seu Tito, gremistão fanático, tava ainda mais nervoso que nós.
Meu pai, que era fã do futebol argentino e uruguaio, adorava a Libertadores da América e vivia me contando as histórias dos mundias de clubes. Era um sonho pra ele ver o Grêmio chegar lá.
Eu nunca tinha visto o pai beber tanto quanto ele bebeu naquele dia. Quer dizer, eu não vi ele beber, mas a conclusão era meio óbvia: ele devia estar dando uns pegas no uísque desde antes do almoço. E tava muito alto-astral.
Às seis da tarde, acho que tão entediado quanto nós, ele começou a aprontar. Atirava de revólver na grama, rasgava roupa velha, tava aloprando mesmo. Nervosismo puro.
Bom, o dia foi terrível, mas finalmente chegou a hora do jogo. Meia-noite.
Eu peguei a calça que eu tinha ido na final da Libertadores, mas ela já não servia mais (quando a gente tem 12 anos, cresce muito em seis meses). A camiseta era a minha primeira tricolor, que também já não servia. Então eu sentei vestindo a calça e segurando a camiseta.
O tricolor tinha um timaço: Mazaroppi, Paulo Roberto, Baideck, De León e Paulo César Magalhães (que ganhou o lugar do Casemiro porque era da turma do Renato); China, Osvaldo, Paulo César Caju; Renato, Tarciso e Mário Sérgio. E, como o Hamburgo não era a Juventus, aproveitamos pra ir pra cima deles.
Não demorou muito e o tricolor saiu na frente. O Renato entortou um alemão perna-dura e bateu sem ângulo. A bola foi no espacinho que dava: entre a trave e o goleiro.

Gol! Golaço! Goooooooooooooooooooooool! Do Grêmio!
Puta que pariu! A gente enlouqueceu. Meu pai mais que nós, com certeza. Acho que a gente não parou de gritar até o final do primeiro tempo.
No segundo tempo, como não poderia deixar de ser, o tricolor se recolheu e os alemães vieram pra cima. E a gente se defendendo. E o barulho diminuindo - apesar de alguns gritos do pai, que acordavam a mãe, que aparecia na sala furiosa. Mas não era zoeira: era nervoso.
No finalzinho, os filhos da puta empataram o jogo. No auge dos meus 12 anos, tive vontade de chorar. Mas ainda não era hora. Quando o juiz apitou, daí deu medo.
Mas a gente tinha um timaço. Mais do que isso, a gente tinha o Renato.
Logo no começo da prorrogação, já com o Caio (que fez o primeiro gol na final da Libertadores), o Grêmio foi pra cima. O tal do bugrinho pegou a bola pela esquerda e cruzou. Tarciso, o Flecha Negra, ganhou na impulsão de um alemãozão e raspou a bola de cabeça.
E a bola caiu na direita, bem no pé do Padeiro Louco de Guaporé. E daí veio mais um momento iluminado do maior camisa 7 da história do tricolor. O sujeito cortou o zagueiro com a direita e chutou de esquerda, no contrapé do goleiro.
Gol. Golaço! De novo! Caralho! Agora ninguém tira. E a gente enlouqueceu de novo. Enloqueceu de vez!

Aí veio o intervalo, veio o segundo tempo da prorrogação e o juiz apitou:
GRÊMIO CAMPEÃO MUNDIAL.
Gritos, foguetes, correria. Meu pai ligou para o tio Juarez, que morava em São Paulo, para o tio Harry, de Joinville, para os amigos. Muitos deles estavam dormindo.
A festa lá em casa acabou quando a gente resolveu que ia pra festa na frente da Zero Hora.
Nessa hora a Dona Mirian mandou todo mundo pra cama. O pai até que tentou insistir, mas seria perigoso mesmo ele dirigir naquela noite.
Fomos dormir. Uns mais rápido que os outros. Todos Campeões do Mundo.
Um título que filho da puta nenhum do mundo pode nos tirar e nem sequer diminuir. Um título que a gente comemora há 24 anos e, enquanto eu for vivo, vou comemorar sempre.

Obrigado, Grêmio!
Dá-lhe, Tricolor Campeão do Mundo!
Fotos roubadinhas no www.gremio.net, onde se encontra uma puta reportagem: http://www.gremio.net/page/view.aspx?i=retrospectiva&language=0
Vai lá!
12 comentários:
Quando eu crescer vou querer escrever assim. Arrepiou!
Bah, arrepiou afú... Muito bom mesmo. Eu só tinha um ano e meio. Mas acho que o meu primeiro gole de cerveja foi naquela noite...
O trecho "E a bola caiu na direita, bem no pé do Padeiro Louco de Guaporé" é foda. Li 2 vezes e nas duas me arrepiei.
Aproveitando o post, alguém tem o frame da corrida do Renato em direção ao banco no 2º gol?
Excelente texto. Uma pena que eu tenha nascido em 1985, mesmo assim eu leio, vejo partes dos VTs e não posso deixar de me emocionar. Parabéns pelo post, Duda. Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, o primeiro campeão mundial de clubes do Rio Grande.
Eu tenho vários frames aqui... Quer que eu te passe por mail minwer?
Eu quero! marciocmartins no hotmail !
quero!
minwer@rba.com.br ou minwerdaqawiya@yahoo.com.br - esse é MSN tb.
brigadão!
Tá aí de post!!! Chorem...
Eu tenho um tio que mora em Montevideu. Ele é uruguaio e minha tia que se casou com ele é gaúcha, e eles foram morar lá, na capital do Uruguai. Ele torce para o Peñarol, e esse ano quando eu falei para ele o que os colorados pensavam do título mundial do Grêmio, ele soltou grandes gargalhadas, visto que o Peñarol e o Nacional se consideram campeões do mundo. O Peñarol é tri e o Nacional é bi, me parece que é isso. Eu já visitei a sede do Peñarol em Montevideu e lá eles tem um lugar especial onde estão guardadas as 3 taças dos mundiais, onde eles afixaram uma faixa escrita "campeón del mundo". Portanto, vejo muitos gremistas se envolvendo em longas discussões com colorados para provar que o título é verdadeiro. Ora, nós não precisamos do reconhecimento da menor torcida do estado, visto que a maior é a do Grêmio, conforme as últimas pesquisas. O mundo todo reconhece.
Ontem a macacada tava nervosa. Os que sabem escrever (são poucos) bombardearam os cocolorados da Bund FM desfazendo dos nossos títulos.
Bah... Os cocolorados são uns merdas.
Ah duda , forçou eu vir aqui heim ? sempre lembrando de nós ,mas também não vou defendê-los ,não sei o que colocaram lá!!! A propósito foi bonito ontem o bolo do gremista vereador Brasinha de 150 kg que custou a ser consumido,distribuindo na esquina democrática,né? ... a príncipio seria só para os gremistas que estivessem de pijama por causa da "demanda" que ele pensava ter lá esperando....rsrsrs mas ....muita gente foi embora pela demora...rsrsrs...o consumo do bolo quase alcançou meio dia ...rsrsrs ... havia também a promessa de foguetório pela manhã que acabou não acontecendo...rsrsrs ... olha a zero hora caderno de esportes , pq na zerohora.com não diz completo a matéria kkkk , valeu , abraços a todos e parabéns pelo mundial apesar de terem ganhado na prorrogação ainda kkk ,
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