terça-feira, 16 de março de 2010

Liga dos Canelas Pretas: ou, "O fim da lenda do clube racista"


Foto publicada hoje no ClicRBS mostra o novo mascote colorado.

Recebi um e-mail de um grande amigo, o gremista Gustavo Lutz.

Ali ele reproduzia um relato importante publicado numa comunidade gremista existente no Orkut (infelizmente, desconheço o autor original do texto).

Pra não injustiçar ninguém, vou publicar aqui trechos do conteúdo, levemente editado pra linguagem do blog.

Infelizmente, esse texto não é capaz de provar que uma torcida é racista ou não. Porque, infelizmente de novo, o racismo é uma praga que discrimina uma minoria, e que muitas vezes acontece até mesmo entre este própria minoria.

Mas ele é capaz de mostrar que um clube, com mais de 100 anos de história, não é nem nunca foi racista.

Ao contrário de muitos outros clubes ditos populares que existem por aí.


Com vocês, o texto: **Por que os colorados nos chamam de racistas?**

Porque chamamos eles de macacos. Porém, O QUE NINGUÉM DIVULGA, é a ORIGEM desse APELIDO, ocorrido décadas atrás.

O ponto onde os gremistas passaram a chamar colorados de macacos foi na reforma do Beira-Lago, onde eles tiveram que assistir os jogos do lado de fora do estádio, subindo nas árvores.

Além de já serem "ironizados" de macacos devido às várias cópias que sempre faziam de gremistas, os colorados subiam em árvores também. FOI AÍ QUE OS GREMISTAS COMEÇARAM A CHAMAR OS COLORADOS DE MACACOS. E O APELIDO PEGOU.

Vale lembrar que, com o passar dos anos, os próprios torcedores do cocoirmão assumiram a identidade símea. Enquanto os gremistas cantavam "ah eu sou gaúcho!" os coloridos cantavam "ah eu sou macaco!". O mascote da torcida organizada deles era, e ainda é, um Macaco. Há pouco tempo atrás, o próprio departamento de Marketing colorido realizou uma pesquisa para que seus torcedores pudessem escolher o "macaco símbolo", um personagem/gimmik representativo da torcida.

Hoje, nas arquibancadas do chiqueiro, podemos ler trapos como "PLANETA DOS MACACOS", e da Torcida Organizada "Ma.Ca.Co" (Massa Cachaceira Colorada).

O engraçado é que, sempre que alguém responde isso, um macaco pergunta, com voz fanha e enfadonha: então por que o Grêmio só foi aceitar negros no time, oficialmente, nos anos 50?

Infelizmente, na época, o campo do Grêmio era doado por alemães. Estas pessoas obrigaram a aceitação de uma cláusula no estatuto do clube que dizia que, se o Grêmio contratasse jogadores negros, perderia o campo.

Mesmo assim, há fotos de negros no time do Grêmio desde 1925 - e consequentemente nos anos 20, 30 e 40.

DETALHE: o Internacional só contrataria o primeiro negro em 1928.

FATO CURIOSO: o SPORT CLUBE 2006 nunca teve NENHUM grande ídolo negro devidamente homenageado, ou talvez com a mesma admiração, como os gremistas fizeram.

Vale lembrar que O GRANDE CRAQUE EVERALDO está imortalizado na bandeira oficial tricolor, simbolizado através de uma única estrela dourada.

O "mestiço" EURICO LARA foi imortalizado no hino do Grêmio. E o próprio hino do Grêmio foi criado por LUPICÍNIO RODRIGUES. Pasmem vocês, amigos símeos, um negro.

Agora vem o MAIS IMPORTANTE, que dá o título deste post: A LIGA DOS CANELAS PRETAS.

No início do futebol profissional no Rio Grande do Sul, negros não jogavam em nenhum time. Então alguns mulatos e negros resolveram montar um, o Rio-Grandense: elegeram nome, uniforme, estatuto, tudo o que os organizadores exigiam para a criação de um time de futebol na época. O sonho daqueles negros, mestiços e mulatos era jogar futebol profissionalmente.

Após anos de organização, no dia em que o Rio-Grandense foi se inscrever na Liga, receberam UM NÃO.

Um dos times que compunha a liga na época VETOU a inscrição do Rio-Grandense.

ADIVINHEM, AMIGOS SÍMEOS, QUEM FOI ESTE TIME? Sim, foi o time do vocês. O clube Internacional menos internacional de Porto Alegre, que se autodenomina o "clube do povo", votou contra, impedindo que o Rio-Grandense INTEGRASSE A LIGA OFICIAL.

O que, então, essas pessoas fizeram? Além de passarem a torcer pro time rival do Internacional, e ensinarem seus filhos a torcerem pro Tricolor, esses negros e mulatos formaram uma Liga própria, a LIGA DOS CANELAS PRETAS.

SE VOCÊ NÃO ACREDITA NESSA HISTÓRIA, NÃO PRECISA MAIS LER O MEU TEXTO. LEIA O LIVRO CUJAS PÁGINAS ANEXEI ABAIXO. O livro que conta a história de um dos maiores compositores que o Rio Grande do Sul já conheceu, independente da cor da sua pele: Lupicínio Rodrigues.

Lupicínio Rodrigues era filho de um dos fundadores do Rio-Grandense.







EM TEMPO: o primeiro negro a jogar no Inter foi Dirceu Alves, em 1928, jogando apenas 10 jogos. Já o Grêmio teve jogadores negros desde a década de 20, mesmo de forma extra-oficial.

De 1925 a 1935 o Grêmio teve Adão Lima, por exemplo. Na própria foto do time de Lara vemos vários negros e mulatos.



A fonte do tópico é: Memorial do Rio Grande do Sul

12 comentários:

@snel disse...

Nem precisa comentários este texto.

Fagner disse...

Sobre o negro no futebol brasileiro, é interessante ler o livro do "Sr. Maracanã", Mário Filho: "O negro no futebol brasileiro". Entre outras coisas, explica que o famoso apelido de "pó-de-arroz" do fluminense é justamente por essa limitação, comum a todos os times da virada do século XX, de não poderem contar com negros nos seus escretes. Isso por um motivo que camuflava o racismo com um argumento esportivo: por ser um esporte, deveria ser amador; ou seja, ninguém podia viver dele. Assim, só podia praticar quem tinha uma outra ocupação que permitisse bater uma bolinha com um uniforme de tempos em tempos.

Como acabou se tornando competição logo em seguida, valendo troféu e tudo, e se popularizou muito rapidamente, vários "negrinhos" (como diz Lupicínio) que não faziam "nada" além de chutar bola o dia todo - não estudavam, não tinham emprego fixo - acabaram aliando a sua força e malandragem e se tornando bons jogadores. Isso foi visto pelo Vasco, formado por lusitanos (que sofriam também o racismo a seu modo) donos de padarias, que passaram a contratar alguns deles para "trabalhar" nas padarias, liberando-os para jogar bola nos torneios. Resultado: foram campeões com o pé nas costas. O fluminense colocou alguns no plantel e, diz a lenda, passou "pó-de-arroz" no rosto deles para parecerem mais brancos, o que resutlou num fiasco no momento que os jogadores começaram a suar.

Sobre o futebol no Brasil e no mundo, é fundamental a leitura do livro do historiador Hilário Franco Júnior: "A dança dos deuses".

Uma das coisas que o Lupi não conta aí no livro dele é que o tal "Rio-Grandense" aceitava apenas mulatos e porteiros de hotel. Essa identificação e afirmação da cultura negra é muito posterior. Dados do censo de 1950 apontam uma redução muito grande no número de negros no Brasil - sinal de que diminuiu o número de afro-descendentes aqui? Não. Sinal de que o rescenceador, que preenchia a cor do indivíduo na ficha naquela época, era um brasileiro como qualquer outro: o Brasil tinha sido derrotado pelo Uruguai no Maracanazo por "culpa" de um preto: Barbosa. Foi por causa dessa injustiça e da ascenção de Pelé que Mário Filho, o irmão de Nelson Rodrigues, resolveu escrever aquele livro de modo a tentar mostrar como é que os negros entraram nesse esporte de elite e a contribuição deles no nosso futebol.

Existem hoje em dia diversos trabalhos que estão se originando na UFRGS sobre essa relação entre história e futebol, motivadas principalmente pelo trabalho de um professor, Cesar Guazzelli, que seguiu um caminh já trilhado no Rio e em São Paulo. Em breve novas coisas devem estar sendo escritas sobre essa relação do racismo nos clubes do Rio Grande do Sul. Os únicos que poderiam, se quisessem, chamar os outros torcedores de racistas são os adeptos do Brasil de Pelotas, fundado pelos negros que trabalhavam nas charqueadas de lá.

É um assunto muito interessante que rende muitas polares. Muito legal a inciativa de postar por aqui.

A parte que realmente me incomoda é que esse discurso do racista foi incorporado de uma forma ferrenha pelos dois lados: gremistas e colorados que são racistas tentando mostrar que seus times são de pretos ou de brancos (e são muitos, de ambos os lados). É triste. É por isso que eu não chamo torcedores do outro time de macacos e nem mesmo canto hinos onde esta palavra aparece. Do mesmo modo como tem gente que realmente acredita que isso não é racismo, tem outros que são racistas e cantam justamente por que tem esse termo.

Saludos,
Fagner

Strenght In Numbers disse...

Muito bom texto.

Mas me intrigou neste último jogo que o time do Grêmio entrou em campo com apenas um jogador negro, o Rodrigo. Não vi ninguém comentar isso, mas o Grêmio parecia um time europeu e não brasileiro.

No final, os dois negros que estavam no banco entraram, Fernando e Bérgson, e equilibrou um pouco mais.


Não que ter negros no time seja um requisito, ter bons jogadores que é. Mas foi no mínimo curioso este fato.

Portal Cidade do Sol disse...

oi, seu Blog é muito bom, é shown adorei mesmo, vou segui ele, quando de da uma olhada no meu http://henrique199.blogspot.com/, um forte abraço! ah sou gremista ate a morre!

Jorge Fuentes disse...

Parabéns pelo texto!!
Esclarecedor e desmascarador dos rubros. O mais engraçado é que eu (negro) nunca sofri preconceito dos gremistas por torcer para o Imortal e sim dos coloridos. Como se também um cidadão ariano não pudesse torcer para as vermelhas.

ANONIMO disse...

O texto, se não estou enganado, é do Carlos Josias e foi publicado no blog Grêmio Sempre Imortal.

Unknown disse...

hahahahahahah que que é isso?

Blog MADE IN ÁFRICA disse...

jORGE fUENTES, COMO VC TEM CORAGEM DE CHAMAR-NOS DE MACACOS??? A torcida não é racista, MAS A HISTÓRIA DO GRÊMIO É.PQ VCS NÃO MOSTRAM MOSTRAM O OUTRO LADO DA HISTÓRIA, COMO AS COISAS DE NEGRINHO QUE O INTER FAZIA, O CASO ELICARLOS, A MACACADA IMUNDA (ISSO NÃO É RACISMO?), A HIST[ORIA DO HINO DO INTER??? MOSTREM OS DOIS LADOS DA HISTÓRIA TBM.SEM MAIS.

OBS.: VAMO, VAMO INTER!!!

Blog MADE IN ÁFRICA disse...

SE VCS SÃO UM BLOG JORNALÍSTICO DE VERDADE DEVERÍAM APROVAR MEU COMENTÁRIO.

P.S. MUITO BOM O TRABALHO DE VCS!!!

Eduardo Altmann disse...

Obrigado pelo texto. Sou gremista e eu mesmo já tinha caído na mentira de que o "Tesourinha" foi o primeiro jogador negro do Grêmio.

No site do Grêmio tem uma notícia a respeito:

http://www.gremio.net/news/view.aspx?id=8328

sadas disse...

http://www.youtube.com/watch?v=YqYlulEHSxw

rodrigo.lima disse...

O inter não foi criado em 1909? Como é que o tal fato ocorreu em 1907?? Estranho isso aí hein?!