sexta-feira, 8 de junho de 2007

Pra que sofrer tanto?

Santos 3 x 1 Grêmio

Libertadores da América 2007 - Semifinais - Vila Belmiro - Santos

Caramba. Fazia tempo que eu não sofria tanto.

Viajei completamente apavorado. No caminho até o aeroporto, nem o Theo e nem eu conseguíamos falar muito. A Claudia, sim, tava disposta e confiante. Ou estava nervosa, porque ela nem é de falar muito e foi conversando aqui de casa até o aeroporto.

"Vai dar, né?", era o que ela mais dizia.

As respostas, sempre monossilábicas, variam entre o arran e o vai ser difícil. Por sorte ela tava confiante.

Além da preocupação com o lado alvi-negro da Força, liderado pelo malvado Darth Vander, tinha que pensar na segurança do Theo. O cara tem 14 anos, é meu sobrinho, afilhado e tem muito o que ver e fazer nessa vida. Então, se eu tivesse que tomar uma tunda pro moleque sair ileso, azar. E tudo se encaminhava para isso.

Antes do almoço, recebi uma ligação da agência de viagem com um pedido. Viajar sem nada do Grêmio aparecendo por uma questão de segurança.

Ok. Preocupantemente ok.

Fomos separados no avião, o que facilitou a nossa vida. Mais uma hora e meia sem precisar falar ajudaria. Não sei como o Theo se saiu, mas eu enfiei a cara na Piauí e só tirei quando o pescoço doía.

O camarada da janela perguntou se eu tava indo pro jogo também. Começamos ali uma conversa sobre o que cada um esperava do jogo. Ele andava com bons palpites desde o jogo de volta com o São Paulo. Achava que seria 2 x 1 para o Santos e que o tricolor sairia na frente. Eu disse tomara. Acho que todo mundo contava com o resultado negativo, mas tinha esperança na classificação.

Apesar da véspera de feriadão, a estrada estava tranqüila para os padrões paulistas. Acho que o frio entre 18 e 30 graus levou a turma para Campos do Jordão. Deu tempo de passar no Hotel Atlântico, deixar as malas e seguir para a Vila Belmiro.

Ninguém levou a sério o fato do motorista da Van ter parado na esquina do Hotel para tentar descobrir onde ele ficava.

Achar os quartos no Hotel também é difícil. O bagulho é um labirinto escurão. Mas deu tudo certo. E deu tempo pra gente correr até um Mac e comprar um sanduba pro Theo.

Disseram que a Vila Belmiro ficava a 5 minutos do Hotel. Depois de 20 minutos rodando, o motorista entrou numa vilinhas, mas que não era Belmiro. E rodou por aquele lugar até que parou pra se informar num ponto de ônibus. Tava longe, muito longo.

Daí ele entendeu uma explicação e foi. Foi a São Sebastião, município vizinho.

A galera começou a cornetear o motora e ele ficou bem magoado. E continuou bem perdido.

O telefone de alguém tocou (o meu ficou no Hotel, ligando e desligando, com o teclado completamente travado - maldita hora em que elogiei o cretino!) e a notícia é que eles tinham tomado uma pressão na entrada. O motorista parou no meio da torcida do Santos, que começou a chacoalhar e bater no carro. Parece que foi um momento de tensão.

Mas a nossa maior preocupação era chegar ao estádio. Se a gente conseguisse encontrá-lo já seria lucro.

Nessa hora, não sabíamos sobre o incidente com os ônibus da Geral, que foram abordados pela Polícia, que não deixou passar quem não tinha ingressos (eles receberiam lá os ingressos, eu acho). A quantidade de ônibus variava de acordo com quem contava a história.

O fato é que uns não puderam voltar e os outros voltaram em solidariedade. E eles fizeram muita falta.

Chegamos em cima da hora. Ninguém se meteu e entramos na boa. Na subida da escada, tem um pedaço em que os visitantes ficam expostos aos inimigos nas cadeiras. Apesar dos caras não nos conhecerem, citaram nossas mães, nossas mulheres, nossa sexualidade. Pra quem achava que ia tomar uma ruim na entrada, foi barbada.

A Vila Belmiro é o que a gente costuma chamar de um chiqueiro.

O campo fica espremidinho pra caramba, o bicho é todo remendado. Uma bosta. Mas o banheiro é bem melhor que o nosso. E só. E o espaço para a torcida do Grêmio? Bom, era menor do que a arquibancada da gloriosa SABI (Sociedade Amigos do Balneário Ipanema).

A Vila tava muito lotada. E a galera fez muito barulho e botou pressão desde o começo, empurrando o alvi-negro pra cima da gente.

Numa das nossas poucas chances, o Carlos Eduardo encontrou o Diego e too mundo viu o que ele fez: se livrou da marcação e guardou lá na gaveta.

A gente enloqueceu. Enloqueceu mesmo. Quando vi, tinha maluco três degraus de arquibancada abaixo nos abraçando. Não vi comemoração, não vi nem quando o jogo recomeçou.

Vai dar, porra! Vai dar!

Perder o Carlos Eduardo foi uma boa desculpa para o indefectível Ramon entrar em campo. Era o que tínhamos, e bem sabíamos que aconteceria mais cedo ou mais tarde.

Douglas brigava lá na frente, dava carrinhos, mas era só o que ele fazia: ser o primeiro marcador do nosso time.

E o Santos nos espremendo, espremendo.

O primeiro tempo já tinha acabado quando o Santos fez o gol. Falha do Patrício. Parecia que o juiz ia nos incomodar. Não gostei do paraguaio.

O segundo tempo começou com o Santos muito mais vivo e o Grêmio ainda mais recuado. Já começaram com escanteios e jogando muito pelas laterais, contando com as falhas que inevitavelmente cometemos nos jogos fora de casa. Do lugar onde eu estava foi impossível ver o segundo gol deles. Na TV, parece que o Patrício se atrapalhou de novo.

O tempo não passava. E o nosso pavor só aumentava.

Veio o terceiro gol, no chute perfeito do Zé Roberto. A Vila pegou fogo. Eu fiquei mudo.

Não vai dar.

E daí adotamos de vez o esquema 6-1, com o Lucas no lugar do Douglas, o Edmílson no lugar do Tcheco e a bola para o lado que o nariz apontasse.

Diego Souza, guerreiro incansável, levou pânico aos santistas em suas tentaivas. Fábio Costa fez duas grandes defesas.

Quando alguém disse que tínhamos 41 minutos, ainda parecia que eles fariam o quarto gol. Meu estômago doía muito.

Não vai dar.

Aos 45, sobe a placa de 4 minutos de acréscimo. Não vai dar.

Mas o tricolor foi copeiro e conseguiu prender a bola, catimbar um pouco e o tempo foi passando. "Ai, ai, aiai, tá chegando a hora..." e o canalha paraguaio apitou.

Acabou! Putaquepariu! Acabou! A gente tá na final de novo!

Depois de tanto sofrer, a gente pôde comemorar.

E comemoramos por muito tempo, até a Polícia garantir que a gente sairia em segurança daquele chiqueiro imundo. Deu tempo até pra fazer uma ponta na Globo.

Na volta, camisetas escondidas por ordem da Polícia, acabou rolando tudo numa boa. Jantamos no mesmo restaurante que o Presidente Paulo Odone e outras autoridades tricolores. A comida era uma bosta. Bem servida, com uma porção gigante, mas uma bosta. O Theo e eu nem comemos muito.

Na caminhada de volta até o hotel, vimos um cadeirante ser atropelado na faixa de segurança por um Pegeout em alta velocidade. O motorista fugiu sem prestar socorro. Aliás, quando viu que o carro não parou, ele só puxou o carro um pouco para a esquerda pra não passar por cima do cadeirante e seguiu na mesmo velocidade. Nem reduziu o filho da puta.

Uma cena horrível. Mais uma emoção violenta numa noite cheia delas.

Pensando depois sobre o acidente, vi que o sujeito do Pegeout poderia ter nos atropelado também. Bastava ter tirado o carro para o Calçadão que pegava a gente.

Mas era a nossa noite de sorte. Não morremos duas vezes. Quer motivo melhor pra comemorar?

Somos finalistas da Libertadores de novo. Vamos enfrentar outro grande time. E vamos pra cima deles, pra tirar a Copa do lugar lamentável em que ela se encontra.

Salve, Grêmio!

Salve todos os Imortais Tricolores!

Faltam dois jogos para o tri e eu acredito sempre. Vai dar!

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