A síndrome da valorização

Não é do meu feitio ficar escrevendo muito sobre o Inter Caldas. Reconheço neles um rival, mas acho exagerado o valor que nossa torcida dá a eles (o número de músicas da Geral que citam os colorados me deixa um pouco decepcionado). Mas enfim, é a realidade que vivemos, então... ferro nas bonecas.

Voltando para o trabalho, logo após o almoço, ouço no rádio um jornalista esportivo perguntando se o título do Estudiantes não valorizava o título do Inter Caldas na Sul-Americana do ano passado, quando eles bateram os argentinos. Os outros concordaram. E, mais uma vez, uma conquista deles ganha um "selo de autenticidade".

Essa necessidade que eles têm de que algo ou alguém deva avalizar suas conquistas é recorrente. Na última Copa das Confederações, o Egito complicava contra o Brasil, vencia a Itália e a imprensa daqui dizia que esses resultados valorizavam o Mundial (FIFA) do Inter Caldas, porque a base da seleção egípcia formava o time do Al-Ahli, derrotado por eles em 2006. Meio doentio, né?

(E o mais engraçado: quando o Egito entregou a rapadura na última rodada, perdendo por 3 a 0 uma vaga que viria com um simples empate, ninguém veio dizer que aquele vexame desvalorizava o Mundial deles.)

Mas o episódio "Mundo FIFA" continua sendo a expressão máxima desse complexo de indigno, de quem precisa sempre que alguém confirme "sim, você é o legítimo campeão". Não basta entrar em campo e ganhar, eles precisam que uma entidade dê um selo, ou que determinado feito seja elevado de tempos em tempos. Pura insegurança, coisa de quem entra na casa dos outros pedindo desculpa. O Real Madrid, o Ajax, o River Plate, nenhum desses clubes se sentiu diminuído em suas conquistas com o fato de a organização do Mundial ser agora de exclusiva responsabilidade da FIFA. São clubes grandes, que sabem que são grandes e que acreditam que são grandes, sem que ninguém precise chancelar. O que os difere daqueles que, por falta de tradição, precisam de uma aprovação externa.

A Libertadores do Inter Caldas também veio com selo. "Batemos o então campeão mundial", dizem eles. Legal. O Grêmio, em 1983, também fez isso, contra o Peñarol. Mas pra nós, isso é nota de rodapé e não um capítulo inteiro.

E a edição 2009, que só tinha times fracos, chamada de "a Libertadores mais fácil de todos os tempos" (vindo de alguém sem muita tradição no torneio, parece piada), agora acaba valorizando uma das monotaças coloradas. Contradições, contradições...